9º OVERLOOK FILM FESTIVAL | The Spirit of Halloweentown, de Brett Whitcomb e Bradford Thomason (Idem, 2025)

The Spirit of Halloweentown sugere trabalhar o legado de St. Helens, mas no fundo apenas se interessa em promover o comércio local.

Antes de tomar conhecimento deste documentário, admito que não conhecia o filme Halloweentown, uma produção televisiva lançada pela Disney direto em seu canal de TV fechada no final dos anos 90. E quando peguei a obra para assisti-la, um sentimento nostálgico me atravessou, como se eu tivesse retornado aos meus anos de criança. Ainda que eu só tenha nascido em 2001, boa parte da minha infância se deu comigo sentado em frente a televisão, assistindo às séries da Disney, e eventualmente alguns filmes com uma atmosfera similar e transmitindo valores morais/familiares parecidos.

Em sua proposta, é interessante pensar que The Spirit of Halloweentown é como um retorno à cidade do filme de 1998, mas agora sob sua verdadeira roupagem: falamos de uma visita à St. Helens, Oregon, onde o longa, há mais de 20 anos, fora filmado, e que hoje sobrevive, em tese, do turismo, e se vende como uma cidade com o espirito da fictícia Halloweentown, em suas tradicionais comemorações de Halloween e histórias fantasmagóricas.

No entanto, o documentário assinado pela dupla Brett Whitcomb e Bradford Thomason tem muita dificuldade em esconder o fato de que é, na realidade, uma propaganda da cidade, possivelmente encomendada pela prefeitura ou, mais provavelmente, por alguns de seus moradores. Não que isso seja algo necessariamente ruim, pois pode-se muito bem promover St. Helen e, ao mesmo tempo contar sua história e o legado de Halloweentown.

O que torna esse interesse de propaganda evidente é que, apesar do título, pouco se fala de Halloweentown ou mesmo de suas filmagens, senão algumas palavras vagas em seus cinco minutos iniciais, a partir da filmagem de um museu com algumas peças do filme, como objetos de cena, fotos promocionais e figurinos. No restante do tempo, acompanhamos a vida de algumas pessoas em seus negócios e afazeres, se preparando para o Halloween.

É uma visita a um pequeno museu da cidade, uma atração de casa mal-assombrada, um bar/restaurante localizado em um antigo prédio histórico (um dos principais focos do filme, na verdade), um museu de alienígenas com relatos de avistamentos na região, os desfiles e concursos de fantasias, uma apresentação de líderes de torcida, entre os ensaios e a apresentação (um dos momentos mais legais) e até uma equipe de caça-fantasmas, procurando por entidades sobrenaturais.

Até certo ponto, é curioso acompanharmos as vidas dessas pessoas enquanto se preparam para a alta temporada na cidade, mas aos poucos vai nos caindo a ficha de que, na prática, pouco ou nada mais veremos sobre Halloweentown senão aquilo que foi dito nos primeiros cinco minutos. Ao invés de buscar por uma abordagem diversa e que abrace a cidade como um todo, o olhar direcionado sempre às mesmas pessoas nos faz perceber que o propósito do filme é de fato divulga-los. Em muitos momentos se fala que St. Helens é uma cidade assombrada, mas nunca ninguém se preocupa em contar sua história, origens, senão por demonstrações nitidamente encenadas dos “caça-fantasmas”. São sempre apenas informações perdidas em meio a depoimentos vazios que mencionam um fato ou outro, mas nunca são aprofundados.

Assim, há de se perceber uma artificialidade em The Spirit of Halloweentown, que vende uma ideia na superfície, e constrói-se em cima dela, mas com outras reais intenções que parecem não se coadunar, como se até enganasse seu espectador, oferecendo uma coisa e entregando outra. E, verdade seja dita, seus exagerados noventa minutos de duração não só cansam o público como também não conseguem vender um diferencial para a cidade de St. Helens, um real motivo para visita-la, um ponto turístico, algo único que Salem, Massachussetts, por exemplo, não possa oferecer também, como uma cidade assombrada e lar da produção de filmes como Abracadrabra (também produzido pela Disney) e do peso histórico dos julgamentos das “bruxas” de 1692. Enfim, creio que essa peça publicitária vestida de documentário notadamente se mostra incapaz de captar o “espírito de Halloweentown”, na medida em que sequer procura por ele.

Avaliação: 1.5/5

The Spirit of Halloweentown (Idem, 2025)

Direção: Brett Whitcomb e Bradford Thomason

Gênero: Documentário

Origem: EUA

Duração: 90 minutos (1h30)

9º Overlook Film Festival

Sinopse: O que significa viver em um lugar conhecido pelo Halloween? Ambientado em St. Helens, OR, o local de filmagem do filme da Disney Channel “Halloweentown”, este documentário acompanha os moradores locais e o impacto que o filme teve em suas vidas e tradições.  (Fonte: Overlook - Adaptado)