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9º OVERLOOK FILM FESTIVAL | Dead Lover, de Grace Glowicki (Idem, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 10 de abr.
  • 3 min de leitura

Sob uma estética teatral formalista e o humor surreal, Dead Lover brinca com Frankenstein através de novas perspectivas sociais.



Entrar para Dead Lover sem saber absolutamente nada sobre o filme é como mergulhar nas profundezas da loucura. Inspirando-se na obra clássica de Mary Shelley, Grace Glowicki, usando-se de uma estética puramente teatral, constrói seu universo na base de um romance experimental, com inúmeros personagens interpretados, essencialmente, por apenas quatro atores, incluindo ela mesma, todos sob um grande palco que se altera constantemente.

 

Na trama, uma coveira solitária (gravedigger, como a chamam) finalmente encontra o homem de seus sonhos, encantador, poético e charmoso como poucos, e também apaixonado por ela, como é. Mas quando ele falece precocemente em um acidente no mar, a coveira, utilizando-se da única parte de seu corpo que fora encontrada, decide tentar reanima-lo, em uma experiência ao estilo de Frankenstein.

 

Toda a atmosfera elaborada por Glowicki é dotada de elementos que nos remetem a uma Inglaterra vitoriana, ao auge do século XIX. Não apenas a linguagem falada, um inglês robusto, poético e arcaico aos olhos de hoje, mas também a direção de arte, figurinos e especialmente os comportamentos dos personagens em cena, conservadores e exageradamente preconceituosos, uns com os outros, em suas funções alegóricas, que criticam e zombam de instituições tradicionais e seus arquétipos típicos, e principalmente com a protagonista, uma mulher coveira, já socialmente isolada, que tenta ressuscitar seu amor falecido.

 

Nessa elaboração com o trato da imagem, em muito Dead Lover lembra do excelente Gothic, de Ken Russell. Não apenas, logicamente, por seus traços góticos, na iluminação escura (que até faz algumas singelas homenagens ao giallo, quando mais colorida) mas pela maneira como ambos emanam a literatura para dentro de suas narrativas, ainda que com abordagens completamente diferentes, tornando o texto falado, poético e repleto de rimas, como um interessante elemento do próprio filme, cuja artificialidade, ao contrário do que acontece em tantos outros, é um charme, e não um problema.

 

Mas para além de tudo isso, Dead Lover carrega consigo um humor muito peculiar, nonsense e repleto de duplo sentido, pelo qual se aproveita para brincar com as instituições, criticar aquele conservadorismo de época, ainda que, em determinado momento, comece a cansar.

 

Apesar de um filme com pouco mais de 80 minutos de duração, a partir de certo ponto, por volta da metade, começa a se repetir, e Dead Lover passa a perder sua própria ideia e aquele ar de originalidade. Por vezes, se estende demais em algo muito parecido, e demora a chegar no ponto de virada para a conclusão. No entanto, quando chega nesse momento, nos presenteia com algo ainda mais absurdo e beirando o ridículo (no bom sentido) do que já havíamos assistido antes, e se encerra de tal maneira que abraça a coragem do cafona e completa sua tragédia de maneira dramática, fechando seu ciclo tal como Mary Shelley fechou o de Frankenstein.

 

Avaliação: 3/5

 

Dead Lover (Idem, 2025)

Direção: Grace Glowicki

Roteiro: Grace Glowicki e Ben Petrie

Gênero: Terror, Comédia

Origem: Canadá

Duração: 83 minutos (1h23)

9º Overlook Film Festival

 

Sinopse: Uma coveira solitária que cheira a cadáveres finalmente encontra o homem dos seus sonhos, mas seu romance é bruscamente interrompido quando ele tragicamente se afoga no mar. Desesperada, ela vai a extremos mórbidos para ressuscitá-lo por meio de experimentos insanos. (Fonte: Overlook - Adaptado)

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