Como um thriller genérico, Death Will Come confunde o espectador em meio a um universo vazio e uma enxurrada de personagens desinteressantes.
Os quinze minutos iniciais de Death Will Come são uma excelente representação do que esperar durante a totalidade de uma hora e quarente de duração. Como um thriller criminal envolvendo organizações criminosas, uma transação que dá errado e um assassinato a ser investigado, o filme de Christoph Hochhäusler abraça a pretensão ao imaginar que uma enorme teia de personagens transformaria sua história em algo complexo.
Acompanhando de fora, dentro da narrativa de Hochhäusler somos representados por Tez, na pele da atriz Sophie Verbeeck, uma assassina de aluguel contratada por uma das partes da transação malsucedida para investigar e acertar as contas com o responsável pela morte do mensageiro, membro de uma das máfias. Apesar de em boa parte do tempo a acompanharmos, como uma terceira imparcial, o longa constantemente quebra essa regra investigativa nos direcionando para estranhas passagens envolvendo os investigados, que mal os desenvolve ou contribui para o desenrolar do mistério.
Boa parte disso, na verdade, funciona como forma de distração e também para deixar pistas que, futuramente, em tese nos levariam às razões para tudo o que aconteceu. No entanto, muito acaba se tornando ainda mais confuso quando se resume num vai e volta para pessoas pouco interessantes, e na melhor das hipóteses, talvez apenas excêntricas – essa vertente que nunca é explorada.
São tantos nomes introduzidos de uma só vez no início do filme que, de quebra, já entramos um pouco confusos e perdidos naquele mundo, o que vai se tornando cada vez pior conforme ficamos de frente à personagens apáticos, cujas relações entre si não possuem nada de especial, e menos ainda traços próprios que os tornem memoráveis, individuais, ou que no mínimo não os tornem esquecíveis, o que vale até mesmo para a protagonista.
Como se o texto já não fosse o suficiente, a construção da imagem exercida por Hochhäusler reforça ainda mais essa apatia, através de uma fotografia genérica, que aposta na maior parte do tempo em um tom azulado e frio, bastante típico das representações norte-americanas da Europa, numa contraposição ao filtro amarelado das regiões tropicais, o que soa contraditório quando esse estereótipo vem de um filme europeu.
A própria misé-en-scene não é valorizada como elemento capaz de contar uma história, escanteada e trabalhada sem capricho, por um diretor que busca por um realismo que apenas torna sua cena vazia, e não contribui para a semiótica, algo se estende à própria ação, que tem receio de abraçar a violência, ao mesmo tempo que é incapaz de estabelecer a geografia do local em que acontece, em meio a diversos andares diferentes, portas e paredes labirínticas que, mal aproveitados, não servem de muito à construção da tensão, apesar da excelente locação.
E é desnecessário dizer que, diante de todas as suas falhas estruturais, o desfecho precisa de uma grande exposição, explicando o passo a passo e as motivações para tudo o que foi feito, e como. É daí que vem o título Death Will Come (algo como “A Morte Virá”), uma ideia boa, mas mal trabalhada em um thriller genérico e desinteressante, que mesmo na Europa, trabalha na base dos artifícios norte-americanos e nessa visão estrangeira de si próprio.
Avaliação: 2/5
Death Will Come (La Morte Viendra, 2024)
Direção: Christoph Hochhäusler
Roteiro: Christoph Hochhäusler e Ulrich Peltzer
Dirigido por Christoph Hochhäusler
Gênero: Thriller, Drama
Origem: Alemanha, Luxemburgo, Bélgica
Duração: 101 minutos (1h41)
77º Festival de Cinema de Locarno (Concorso Internazionale)
Sinopse: A assassina de aluguel Tez é contratada por um temido mafioso para investigar e executar o responsável pela morte brutal de um dos seus mensageiros. Mas a partir de certo ponto, ela começa a perceber que nem tudo é o que parece.
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