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Foto do escritorHenrique Debski

77º FESTIVAL DE LOCARNO | CURTAS assistidos - Comentários críticos

Nesta publicação, o objetivo é trazer pequenos comentários críticos acerca dos curtas-metragem assistidos por mim ao longo da cobertura online do 77º Festival Internacional de Cinema de Locarno. As críticas estão ordenadas pela sequência dos filmes assistidos, do primeiro ao último.


Imagem do curta Washhh.


400 Cassettes (Idem, 2024)

Direção: Thelyia Petraki

Origem: Grécia, Alemanha

Avaliação: 3.5/5

 

O curta 400 Cassettes lembra em partes a estética e até o eixo temático da diretora Jane Schoenbrun, que vai desde os recursos limitados até a escolha de situar a narrativa no passado para abordar a dor existencial de uma juventude desconfortável consigo. Claro que a duração impede um maior aprofundamento, mas é o suficiente para a direção de Thelyia Petraki mostrar o que se passa na mente de suas personagens através de uma ficção científica sem a necessidade de verbalizar tudo.



Better Not Kill the Groove (Idem, 2024)

Direção: Jonathan Leggett

Origem: Suíça

Avaliação: 3/5

 

O teor de experimentação em Better Not Kill The Groove funciona bem enquanto a direção de Jonathan Leggett explora a crise de identidade do jovem atual, sobretudo diante da fácil influência exercida pela internet e redes sociais em seu dia a dia. Frente a tantas possibilidades de ser, querer ser e demonstrar ser, a dúvida existencial é mais do que justificável pelo curta, ainda mais com indícios de depressão por parte do narrador-protagonista, e a preocupação com sua imagem social através dos olhos alheios. Ainda que essa espécie de sátira acabe ficando bastante superficial pela curta duração e escolhas nas colagens, com material extraído da internet, a veia escolhida para debate é bastante interessante - eventualmente, até pode cruzar, ainda que com abordagens diferentes, com os recentes We're All Going to the World's Fair e I Saw the TV Glow, de Jane Schoenbrun.


 

Ludwig - Power Inferno (Idem, 2024)

Direção: Anton Bialas

Origem: França

Avaliação: 2.5/5

 

A estética de Power Inferno combina muito bem com o perfil gótico e obscuro da figura histórica de Ludwig II da Bavária, em uma atmosfera que o curta de Anton Bialas sabe muito bem reproduzir, a partir de tons avermelhados da fotografia e uma direção de arte cuja ênfase se dá na excentricidade das características de cada objeto em cena. Tudo para culminar em um grande momento erótico, explícito e gráfico, que, dentro da ideia conspiracionista, foi responsável pelas grandes tragédias do século XX - tudo, claro, através de uma metáfora alegórica. Acontece que para explorar essas tragédias Bialas recorre a elementos cansativos, em uma mudança na linguagem de seu filme, a partir de uma montagem de imagens históricas e um grande texto em tela, que aos poucos perde o próprio sentido ao desviar a atenção do espectador do que era realmente interessante. É um experimento curioso, que acaba jogando contra si na segunda metade, quando quebra sua própria ideia inicial.



Lux Carne (Idem, 2024)

Direção: Gabriel Grosclaude

Origem: Suíça

Avaliação: 2/5

 

Lux Carne até possui uma proposta interessante enquanto uma distopia pautada no consumo de carne, e na aproximação do ser humano com sua própria natureza de estar no topo da cadeia alimentar a partir de um programa institucional para matar animais como maneira de aprendizado e permissão para comer carne, como um exercício da posição dominadora. Mas Gabriel Grosclaude parece não conseguir extrair praticamente nada de sua interessante premissa, de forma que coloca a protagonista para confrontar a realidade, mas sem estabelecer algum real conflito, que não provocar um pouco de angústia no espectador, servindo quase que como uma propaganda de incentivo ao vegetarianismo. É bem frágil até pelo modo de construir tensão, justamente por não chegar, realmente, a lugar algum - e olha que os primeiros minutos demonstram potencial.



Hymn of the Plague (Гимн чуме, 2024)

Direção: Ataka51

Origem: Rússia, Alemanha

Avaliação: 3.5/5

 

Eu gosto do estilo de experimentação formal que Hymn of the Plague oferece, enquanto uma experiência musical e sensorial voltada para o terror através de uma assombração que pouco a pouco engloba a todos que estão em cena, uma grande orquestra em gravação. Os efeitos surpreendem pela qualidade e inventividade, e a direção assinada por Ataka51 trabalha bem com a trilha, aliada ao aspecto fantasmagórico do ambiente e de suas próprias cenas, desembocando em um grande aprisionamento no tempo e espaço, nas figuras do esquecimento e da insignificância, numa mescla entre passado e presente.

 


Métropole (Idem, 2024)

Direção: Theo Kunz

Origem: Suíça

Avaliação: 2/5

 

Acho muito interessante a ideia de tentar trabalhar, em vinte minutos, com duas das inúmeras faces de uma grande metrópole, a partir de dois grupos distintos: jovens skatistas e manifestantes contrários à reforma da previdência. Sem conseguir adentrar a muitos detalhes sobre ambos os grupos, em virtude da ótica escolhida e também pela questão temporal, o resultado é um filme que apenas registra superficialmente um dia comum em uma metrópole francesa - nesse caso, Lyon. Pode soar sarcástico até, mas é mais ou menos isso mesmo. Até há uma tentativa de debate sobre a reinterpretação do espaço urbano, mas que nunca consegue verdadeiramente avançar por sempre estar em segundo plano, ainda que também não consiga extrair quase nada das narrativas supostamente em primeiro plano.



Gender Reveal (Idem, 2024)

Direção: Mo Matton

Origem: Canadá

Avaliação: 4/5

 

Confesso que depois de assistir a Gender Reveal, eu fiquei bastante curioso para ver o que o diretor Mo Matton pretende fazer em seguida, pois não apenas ele soube juntar bons elementos de uma comédia desconfortável com algumas pitadas de terror, mas também ironizou muito bem um dos mais bizarros eventos sociais contemporâneos: o chá de revelação. Nada contra quem o faz, mas o ponto que o filme traz, alinhado a uma pauta LGBTQIAPN+, é: será que isso realmente importa? Questionando esses valores tradicionais, e as figuras do “menino e menina”, o ambiente em que os protagonistas se encontram é recheado por uma toxidade conservadora, convertida posteriormente em algo físico e palpável, como um veneno que produz efeitos contra o próprio responsável por sua aplicação. É de um humor bastante obscuro - o que eu adoro -, e mostra criatividade na forma como tece sua crítica, deixando ainda um gosto de "quero mais". Uma baita surpresa satírica.


 

Freak (Idem, 2024)

Direção: Claire Barnett

Origem: EUA

Avaliação: 1.5/5

 

Muito difícil assistir a uma discussão verborrágica de doze minutos quando em boa parte do tempo não há qualquer interesse no trabalho imagético, escanteado em uma obra audiovisual para priorizar o texto falado. Até pode soar realista pela forma de discussão, e até surpreende pela resolução, mas é um curta muito mais preocupado com o que se diz do que com o que se mostra, sem conseguir estabelecer uma conexão interessante entre os elementos. Esperava algo mais estranho, que talvez faria jus ao título.



Washhh (Idem, 2024)

Direção: Mickey Lai

Origem: Malásia, Irlanda

Avaliação: 2.5/5

 

Washhh é um curta interessante ao colocar diversas mulheres de diferentes culturas para seguir as regras de um islamismo conservador, enquanto servem ao exército da Malásia. A fotografia quase incolor contribui muito na construção de um vazio sentido pela protagonista chinesa diante da situação em que se encontra, sobretudo com a líder em sua cola, empurrando costumes nos quais ela não acredita goela abaixo. Mas apesar do elemento fantástico na narrativa, não é um filme que consegue debater tão bem a temática cultural central, sobretudo pela fragilidade da semiótica com a qual trabalha tudo isso. É uma perspectiva curiosa, ainda que não tão eficaz da forma como explorada.



 

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