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Foto do escritorHenrique Debski

48º MOSTRA DE SP | O Pior Homem de Londres, de Rodrigo Areias (Idem, 2024)

O Pior Homem de Londres possui uma boa história nas mãos, mas pouco aproveitada em um roteiro confuso e de ritmo lento.



O drama português O Pior Homem de Londres, dirigido por Rodrigo Areias, é curioso enquanto se passa na Inglaterra vitoriana, em pleno século XIX, e é todo falado em inglês. Lembrou-me, por este motivo, de um ótimo filme nacional que também assisti na Mostra de São Paulo, porém de 2023: Invisíveis (ou The Ballad of a Hustler), que, apesar de brasileiro e com direção de Heitor Dhalia, se passa na cidade de Nova York e também é falado quase que inteiramente em inglês.

 

Em ambos os casos, mesmo que filmes distintos, em algo compartilham: apesar do ambiente estrangeiro, em momento algum renegam a própria origem. Invisíveis trata justamente de um imigrante brasileiro tentando sobreviver na cidade de NY, tal como O Pior Homem de Londres conta sobre a vida de Charles Augustus Howell, que se considerava britânico no corpo e na alma, mas nascera em Portugal e atendia, quando conveniente, aos interesses de seu país.

 

Howell é, sem dúvida, uma personalidade histórica formidável para se trabalhar em uma narrativa histórica do tipo. Envolvido com grandes figuras da arte inglesa de seu tempo, teve importância em grandes negociações, na ascensão e queda do pintor Dante Gabriel Rossetti, e se envolveu nos processos de unificação da Itália e até mesmo na tentativa de assassinato do imperador Napoleão III da França.

 

Em meio a uma produção caprichada nos detalhes para transportar o espectador àquele mundo de duzentos anos no passado, o longa não é tão capaz, por outro lado, de segurar o interesse, diante do confuso roteiro de Eduardo Brito, e mais ainda do ritmo cansativo da direção de Areias.

 

No trato de seu protagonista, é visível uma dificuldade do texto em definir a maneira como articular as diversas facetas e temáticas interessantes sob o ponto de vista de Howell, entre a arte e a política. Na contramão de um equilíbrio entre ambos, o longa prefere se voltar ao universo da arte, com ênfase em sua relação com o pintor Rossetti, e eventualmente traçando conexões entre seus feitos como negociador (chantagista e estelionatário) e conspirador de mudanças políticas na Europa.

 

Nessa abordagem que rejeita a história – a secundarizando, por vezes -, talvez o filme não consiga captar onde justamente está a importância dos feitos de Howell, direcionando o olhar para elementos mais fictícios e repletos de licença poética do que efetivamente mirando em uma narrativa que se atém aos fatos.

 

Inclusive, não é um filme que oferece situar o espectador em seu momento histórico, o que faz dele até um tanto proibitivo para quem não conhece tão profundamente o contexto europeu da época. Mais ainda, a própria passagem de tempo no decorrer da narrativa não pode ser tão bem sentida, sempre saltando sem nos dar indícios (nem mesmo em elementos sutis ou coisa assim), o que perde justamente a essência do impacto das ações do protagonista.

 

O ritmo, junto a isso, se compromete nessa confusão temporal, sem que a obra sequer ofereça algum dinamismo, a partir da ausência de uma trilha musical e se pautando exclusivamente em diálogos. Assim, é como se a narrativa girasse em círculos, repetindo os mesmos tipos de situações a todo tempo, como num grande ciclo, que só encerra quando sai pela tangente – de maneira criativa, admito.

 

Dessa forma, mesmo com o bom trabalho de Albano Jerónimo, que segura bem as pontas no protagonismo, O Pior Homem de Londres é um daqueles filmes que tem uma história interessante para contar, mas talvez não encontre a melhor forma para tanto. Se a montagem pudesse valorizar o aspecto de suspense, e equilibrar um pouco a vertente chantagista com a política do protagonista, talvez sua construção pudesse soar mais completa, e por consequência, se fazer conhecer melhor pelo espectador.

 

Avaliação: 2.5/5

 

O Pior Homem de Londres (Idem, 2024)

Direção: Rodrigo Areias

Roteiro: Eduardo Brito

Gênero: Drama, Thriller

Origem: Portugal

Duração: 130 minutos (2h10)

48º Mostra de São Paulo (Perspectiva Internacional).

 

Sinopse: Na Londres vitoriana, em meio à comunidade pré-rafaelita e às conspirações políticas, surgiu uma figura de espírito aventureiro e de imensa sagacidade: Charles Augustus Howell. Ele agenciava grandes artistas, era um negociante de arte, agente secreto e mestre da chantagem. Arthur Conan Doyle fez dele um personagem nas histórias de Sherlock Holmes, chamando-o de o pior homem de Londres. (Fonte: Mostra de SP)

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