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Foto do escritorHenrique Debski

48ª MOSTRA DE SP | The Surfer, de Lorcan Finnegan (Idem, 2024)

Com The Surfer, Lorcan Finnegan explora a obsessão, através de uma narrativa sádica que se diverte torturando o protagonista de Nicolas Cage.



Dentro do cinema de Lorcan Finnegan, The Surfer é mais um filme que explora a mente e os comportamentos humanos a partir de situações extremas que levam a loucura. Se outrora já falara sobre o pesadelo do sonho americano (em Vivarium, 2019); e também sobre a ganância (com Nocebo, 2022), agora foi a vez de tratar da obsessão.

 

Na trama, Nicolas Cage vive um empresário que está tentando comprar uma casa pé-na-areia em uma região paradisíaca da Austrália, imóvel esse que pertencera a sua família no passado e onde cresceu. Antes de finalizar a transação, ele tenta levar seu filho para surfar, mas é impedido por um clube local, que diz ser a praia privativa dos moradores e proprietários, gerando uma briga interminável e cada vez mais perigosa.

 

De muitas maneiras, The Surfer busca por uma imersão do espectador àquele mundo. É através de um único espaço, muito bem estabelecido; da fotografia quente, que capta muito bem a atmosfera australiana do verão na região; e um protagonista com objetivos aparentemente simples e claros que Finnegan nos atira naquela realidade. Por muito, funciona como uma espécie de jogo, onde tudo se torna mais difícil a medida em que evolui, e as soluções encontradas cada vez mais extremas e arriscadas. Nós, espectadores, somos convidados a participar desse jogo, e tentar encontrar as soluções junto ao personagem, para que possa progredir nos eventos.

 

Para tanto, a imprevisibilidade é a chave, ao brincar com a manipulação do protagonista e de seu redor, ao ponto de gerar dúvidas, para fora da tela, em relação a sua confiabilidade, bem como, também, ao clube que o antagoniza, liderado pelo valentão Scally, muito bem vivido de forma intimidadora por Julian McMahon.

 

O mais divertido é que, diante dos absurdos, qualquer solução pode ser válida para a narrativa, desde algo fantasioso até o puramente realista. O diretor, assim como do personagem, nos tira a noção de tempo, e o tortura o esvaziando até mesmo de humanidade.

 

No entanto, não há sofrimento que o faça retirar seus olhos do sonho, motivo pelo qual o faz aceitar e afundar cada vez mais naquela tortura. E Fineggan, de forma sádica, gosta disso, e se diverte com a tragédia, explorando o olhar desesperado e desejoso do protagonista para a praia, os surfistas, para o mar e a casa que tanto sonha em reaver, colocando no fundo uma música sarcástica e, a cada passo dado, o distanciando e punindo – e ao mesmo tempo, incomodando o espectador, com as risadas humilhantes de todos ao seu redor e as diversas passagens escatológicas, que servem de garantia para a sobrevivência.

 

Quando caminha para o fim, entretanto, o que se direcionava para um trajeto de alegoria toma caminhos opostos, apostando em algo mais palpável. Dentro do absurdismo proposto pela narrativa como um todo, é inesperado enquanto concreto e organizado demais, mas ao mesmo tempo serve muito bem à linguagem do filme, já que uma mudança brusca no direcionamento era plenamente possível diante de um longa do qual não podemos esperar por nada – e que faz questão de reforçar isso a todo tempo.

 

Creio que tal escolha criativa será uma grande divisora de águas, que fará de The Surfer ser apreciado ou odiado. Mas é curioso que, ainda assim, a ideia alegórica é, em momento algum, descartada. Como um bom projeto que faz um ótimo uso da persona de Nicolas Cage (certamente escrito pensando no ator), o filme depende muito do espectador, em ativar a “suspensão da descrença” e aproveitar, com um bom mergulho de cabeça, o que a narrativa tem a oferecer. Assim, existem grandes opções de como interpretá-lo, dentre as várias sugestões e pontos de vista.

 

Avaliação: 4/5

 

The Surfer (Idem, 2024)

Direção: Lorcan Finnegan

Roteiro: Thomas Martin

Gênero: Thriller

Origem: EUA, Austrália, Irlanda

Duração: 99 minutos (1h39)

48º Mostra de São Paulo (Perspectiva Internacional)

 

Sinopse: Um homem retorna à praia onde passava a infância para surfar com o filho. Porém, depois de ser humilhado por um grupo de influentes moradores locais, ele se vê arrastado para dentro de um conflito que aumenta com o calor torturante do verão, fazendo-o chegar até o limite.

(Fonte: Mostra de SP)

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