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Foto do escritorHenrique Debski

48ª MOSTRA DE SP | The Line, de Ethan Berger (Idem, 2024)

The Line lança um olhar de reprovação sobre a violência e os abusos nas fraternidades universitárias, mas não encontra meios para estabelecer uma identidade própria diante de tantos filmes parecidos.



Em certo momento durante a projeção de The Line, cheguei a virar para um amigo que assistia ao filme comigo e disse: “estou achando que isso é um remake, porque parece que conheço essa história”. No fim das contas, não era, mas bem poderia ser. No caso, pensava que seria uma refilmagem norte-americana do thriller britânico The Riot Club, dirigido por Lone Scherfig.

 

Ambos os filmes compartilham de muitos elementos, incluindo seu eixo temático e até mesmo alguns eventos-chave, ainda que se posicionem e se manifestem de maneiras distintas, conservando, porém, o protagonista e a repulsa em relação ao que vê. Falamos, aqui, de filmes que tratam de fraternidades/sociedades universitárias predominantemente masculinas, que se reúnem para festejar e se tornam verdadeiros grupos que atravessam gerações.

 

Não é a toa que nos primeiros minutos de The Line um jantar entre o protagonista e a família de seu melhor amigo, encabeçada por John Malkovich, sirva justamente como forma de trabalhar o legado secular da fraternidade que integram, citando grandes nomes e as relações que se construíram a partir dali.

 

É nesse sentido que o longa de Ethan Berger direciona nossa atenção para os ritos dessa fraternidade, e a articulação política que se constrói no centro para a escolha dos novos integrantes. É justamente onde nascem os atritos entre os membros, baseada no mais puro sentimento humano de poder, e nas escolhas que o protagonista Tom, vivido por Alex Wolff, terá de fazer para manter sua reputação, ainda que arrume problemas com seu melhor amigo, e colega de quarto, Mitch, interpretado por Bo Mitchell.

 

A base de toda a narrativa se dá na escalada de conflitos entre o veterano Mitch e o candidato Gettys, vivido por Austin Abrahms, enquanto uma tola falta de respeito à hierarquia é responsável por uma grande tragédia, anunciada pelo tom do longa desde a abertura, conservando, porém, o mistério do que poderá acontecer.

 

A mise-em-scene de Berger é muito eficaz em trabalhar esse senso de hierarquia, sobretudo durante as cerimônias – a título da belíssima cena da escada, com o protagonista a frente de todos os membros mais velhos, liderando o ritual, e abaixo os novatos, no processo de seleção. Não só nesse momento, mas quando coloca seus personagens em níveis diferentes sempre existe algo revelando o senso a importância de suas palavras frente àquele contexto social, ainda mais diante da fotografia que valoriza a frontalidade das relações em cena – outro momento possível de destaque é a relação do protagonista com a mãe e as posições à mesa.

 

No entanto, quando precisa construir tensão, especialmente no clímax, parece que Berger se sente apreensivo em optar uma abordagem mais direta e brutal, que fosse efetivamente contundente para chocar o público diante do contexto de violência que se cria. Pouco se explora verdadeiramente os efeitos do abuso a qual se submetem os novatos através da submissão, bem como pouco se trabalha isto também na visão dos agressores, em um desenvolvimento superficial.

 

O pior é que isso ainda se estende para além do clímax, e chega também nas consequências, que além de previsíveis, não conseguem trabalhar o real impacto causado nas vidas dos envolvidos. São personagens que não evoluem, e até mesmo o protagonista sofre com essa falta, apesar do bom trabalho de Wolff, especialmente no olhar amargurado e com o pesar de suas atitudes.

 

Assim, The Line é na verdade mais um dentre tantos filmes que abordam essa mesma temática com um mesmo olhar de reprovação, sem conseguir construir em torno de si uma identidade própria, seja pela narrativa e seus desdobramentos, ou pelos personagens em tela. A melhor parte nisso é o elenco engajado, e especialmente a versatilidade de Austin Abrahms, provada pela segunda vez neste ano.

 

Avaliação: 3/5

 

The Line (Idem, 2024)

Direção: Ethan Berger

Roteiro: Ethan Berger, Alex Russek e Zack Purdo

Gênero: Thriller, Drama

Origem: EUA

Duração: 100 minutos (1h40)

48º Mostra de São Paulo (Perspectiva Internacional)

 

Sinopse: Tom é um membro dedicado de uma fraternidade universitária, um grupo que promete alto status social e conexões com ex-alunos que podem abrir portas para a carreira e a vida pessoal. A devoção do rapaz começa a ser testada a partir de desentendimentos com seu melhor amigo, também membro, e em certo momento precisa tomar uma decisão e se posicionar quando a iniciação de novos integrantes sai de controle. (Fonte: Mostra de SP – Adaptado)

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