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Foto do escritorHenrique Debski

48ª MOSTRA DE SP | Saturday Night, de Jason Reitman (Idem, 2024)

Sem soar proibitivo, Saturday Night é uma viagem caótica aos 90 minutos que antecederam uma revolução na televisão norte-americana.



Alguns poucos dias antes da sessão de Saturday Night, uma alteração na programação da Mostra encaixou outra produção entre as exibições dos dois filmes que gostaria de ver no dia, até então seguidos, “jogando” este para lá das dez horas da noite, e criando um grande intervalo no meu dia. Em um primeiro momento, não nego que fiquei irritado – afinal, era para uma segunda-feira, sem feriado, e precisava acordar cedo no dia seguinte. Entretanto, além da ótima noite que tive acompanhado de amigos na Cinemateca, confesso que a experiência foi interessante enquanto sinto que acompanhei os eventos do filme quase que em tempo real, em relação ao meu relógio.

 

Pois Saturday Night conta dos noventa minutos de bastidores que antecederam a primeira vez que o programa norte-americano SNL entrou no ar, em outubro de 1975, por volta da meia-noite – logo, os acompanhamos mais ou menos a partir das 22h. É um filme que justamente propõe uma imersão ao espectador se passando praticamente em tempo real, no qual cada minuto contava, e poderia ser decisivo ou não para o futuro do programa, enquanto o caos tomava conta do estúdio, cuja grade dos esquetes ainda não estava finalizada, atores se rebelavam, o roteiro era censurado e parte dos executivos – e até um dos produtores – não confiavam no sucesso do projeto.

 

Com o desfecho sendo bastante óbvio – afinal, se o programa existe, e encontra-se no ar até os dias de hoje, significa que deu certo -, o que importa em Saturday Night, e justamente para onde Jason Reitman direciona seu olhar e interesse, é a jornada. É a maneira como Lorne Michaels (vivido por Gabriel LaBelle, mais uma vez excelente depois de Os Fabelmans) acreditou, do começo ao fim, em sua capacidade de coordenar aquele time caótico, naquele dia ainda mais bagunçado, controlando a ansiedade e os próprios sentimentos rumo a uma revolução na história da televisão.

 

Começando na calçada, em frente ao prédio da NBC em Nova York, Reitman nos dá alguns minutos para viajar no tempo, comprar a ideia e adentrar àquele clima de desespero, enquanto acelera o ritmo nos momentos seguintes enquanto os personagens em tela sobem o prédio em direção aos estúdios do programa. A trilha, ao fundo, aumenta suas batidas na medida em que se aproximam do destino do elevador, assumindo o caos ao chegar e se deparar com pessoas correndo para todos os lados, inúmeras conversas se atravessando e problemas surgindo de última hora. Por vezes, até lembra o estilo de Paul Thomas Anderson, com personagens excêntricos, e a câmera os seguindo pelos corredores, intercalando arcos narrativos a todo segundo.

 

Na base de um humor satírico típico do programa, o roteiro de Reitman e Gil Kenan é ágil na língua, e brinca com a indústria da televisão norte-americana dos anos 70 anterior à criação do SNL e seu estilo inovador. É justamente se pautando na contracultura que o filme, apesar de se situar há cinquenta anos, dialoga muito com o mundo dos dias atuais, em meio às piadas com a influência da religião, e até a própria resistência à mudanças comuns a todo e qualquer setor da arte, com medo de assumir os riscos em fazer algo diferente. É uma ode à um humor sem limites, a tocar em feridas, e mais ainda, romper com parte do conservadorismo norte-americano da época – e quem sabe também de hoje.

 

E, além de tudo, o que mais me preocupava sobre Saturday Night era que fosse um filme proibitivo, ou exclusivamente direcionado aos fãs do programa – em especial os norte-americanos -, o que sabiamente foi trabalhado a partir de referências, que certamente o engrandece para quem as compreende, mas não estão diretamente vinculadas à construção da narrativa em si, ao ponto de gerar incompreensão, assim abraçando todos os lados do público. Inclusive, vale destacar, me incluo nesse lado que pouco conhece do programa, a não ser uma ou outra vez que assisti a algum esquete isoladamente.

 

Por isso que Saturday Night funciona tão bem. Como comédia, é ágil e certeiro na maneira como vomita piadas – ao ponto de eu ter ficado sem ar em algumas cenas, de tanto que dava risada –, com um elenco talentoso e muito bem caracterizado; assim como revela muito também dos EUA daquela época, a partir da resistência do estúdio na criação do programa. No fim, fico feliz de Jason Reitman ter se afastado de Ghostbusters: Apocalipse de Gelo para dar atenção a este projeto.

 

Avaliação: 4/5

 

Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia (Saturday Night, 2024)

Direção: Jason Reitman

Roteiro: Jason Reitman e Gil Kenan

Gênero: Comédia

Origem: EUA

Duração: 109 minutos (1h49)

48º Mostra de São Paulo (Perspectiva Internacional)

 

Sinopse: Às 23h30 do dia 11 de outubro de 1975, um grupo de jovens comediantes e escritores mudou a televisão - e a cultura norte-americana - para sempre. O filme é baseado na história verdadeira do que aconteceu nos bastidores durante os 90 minutos que antecederam a primeira transmissão do Saturday Night Live. Repleto de humor e caos de uma revolução que quase não aconteceu, contamos os minutos em tempo real até ouvirmos a famosa frase: “Ao vivo, de Nova York, este é o ‘Saturday Night Live’!”. (Fonte: Mostra de SP - Adaptado)

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