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Foto do escritorHenrique Debski

48ª MOSTRA DE SP | Oeste Outra Vez, de Erico Rassi (Idem, 2024)

O Oeste Outra Vez de Erico Rassi nos leva à uma terra de homens que não sabem lidar com a masculinidade frágil, em uma ótima sátira aos comportamentos primitivos ainda atuais.



No retorno da sessão de Oeste Outra Vez na Mostra, para lá da meia-noite e meia de um domingo (na verdade já era segunda-feira né?), pedi uma corrida por aplicativo, e, no retorno para casa, acompanhei o motorista, durante cerca de vinte minutos, em seu possível clima de “sofrência”, ouvindo, com o volume altíssimo, músicas sertanejas sobre traição e solidão amorosa. Esse ar não poderia ser melhor para refletir sobre o filme.

 

Durante todo o seu primeiro ato, Oeste Outra Vez estabelece a si mesmo como um filme sério. Até pode ser, de fato, com uma discussão entre dois homens, que disputam por uma mesma mulher (sem nome ou rosto), e, sem chegar a um consenso, tomam atitudes cada vez mais drásticas “em nome do amor”. No fundo, sabemos bem que, no contexto em que se inserem, nenhum dos dois é flor que se cheire, mas como poderíamos saber de imediato?

 

Isso é algo que fica cada vez mais claro na medida em que a jornada se desenrola. Apesar de se passar na atualidade, o filme brinca justamente com os elementos do faroeste convencional, pelo eixo temático e pela maneira como os personagens se comportam diante da situação diante deles, objetificando, sem dó, a mulher disputada, a encarando como um prêmio ao vencedor, sem nem mesmo levar em conta sua autonomia e vontades – afinal, estamos em um país livre.

 

No fundo, ambos sabem, mas não querem admitir, serem farinha do mesmo saco, apontando um ao outro seus defeitos, razões pelas quais devem ficar com “o prêmio”, sem nem perceber – ou pelo menos sem querer admitir, que são iguais.

 

Naquele ambiente, são todos assim, desde o pistoleiro contratado pelo protagonista, vivido por Ângelo Antônio, até a dupla contratada pelo personagem de Babu Santana para contra-atacar seu “adversário”, nesse jogo mais antigo do que andar pra frente, e mais rudimentar do que fazer fogo com pedras.

 

Acontece que Érico Rassi tem uma grande carta na manga nessa ideia de subverter o gênero do faroeste, ao constantemente surpreender seu público com elementos inesperados em seus personagens. Apesar de se apresentarem como sérios, nunca esperamos que as imagens que possuem de si mesmos possam ser diferentes da realidade. É quando Oeste Outra Vez assume seu ar satírico, e um humor sempre presente nos diálogos afiados entre os personagens, que operam em uma dinâmica pouco convencional de apoios mútuos e estranhos, levando tudo à máxima literalidade.

 

Apesar das ameaças constantes oferecidas pela presença das armas em cena, nunca se sabe até onde as mesmas terão eficácia, diante das habilidades questionáveis dos atiradores – com indícios antes mesmo do primeiro tiro ser disparado. E o ato de matar, mesmo que presente a todo tempo, e até acontecendo, nunca tem o real interesse de Rassi e menos ainda é mostrado por sua câmera, de maneira parecida, ainda que com proposta relativamente diversa, daquilo que Clint Eastwood fizera no excelente Os Imperdoáveis (este sim, um filme sério, que também subverte com brilhantismo os elementos do gênero por um mestre).

 

Enfim, não haveria título melhor para o filme que não Oeste Outra Vez (até o título em inglês, Same Old West, é ótimo), enquanto retrata, através de uma sátira afiada, um comportamento social comum a todos os círculos em qualquer lugar do mundo, em proporções primitivas, dignas do faroeste, brincando com os valores do faroeste tal como os clássicos filmes do gênero de meados do século XX, da mesma forma que caçoa da masculinidade frágil dos homens, os expondo a situações e atitudes cada vez mais ridículas. Inclusive, o desfecho também não poderia ser melhor, com a trilha musical encerrando o longa com chave de ouro, junto aos créditos finais, com o fim de uma jornada para lá de engraçada.

 

Avaliação: 4.5/5

 

Oeste Outra Vez (Idem, 2024)

Direção: Erico Rassi

Roteiro: Erico Rassi

Gênero: Comédia, Drama, Faroeste

Origem: Brasil

Duração: 97 minutos (1h37)

48º Mostra de São Paulo (Mostra Brasil)


Sinopse: No sertão de Goiás, homens brutos que não conseguem lidar com as próprias fragilidades são constantemente abandonados pelas mulheres que amam. Tristes e amargurados, eles se voltam violentamente uns contra os outros. (Fonte: Mostra de SP)

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