top of page
Foto do escritorHenrique Debski

48ª MOSTRA DE SP | Marcello Mio, de Christophe Honoré (Idem, 2024)

A criativa homenagem de Christophe Honoré à Marcello Mastroianni tem uma boa ideia, que não sabe, porém, como ou para onde ir.



Em Marcello Mio, a grande ideia de Christophe Honoré é uma criativa homenagem a um dos maiores nomes do cinema europeu: Marcello Mastroianni. Falecido em 1996, o ator acumula mais de 140 créditos em diversas produções, faladas em inúmeras línguas diferentes, e encontra, direta ou indiretamente, lugar na formação de gerações de cineastas, atores e cinéfilos de todo o mundo.

 

Então, para reviver a memória dessa figura tão importante, a comédia de ficção de Honoré o reencarna, por alguns dias, no corpo de sua filha, Chiara Mastroianni. Junto a um grande elenco de estrelas, incluindo Catherine Deneuve (mãe de Chiara), Fabrice Luchini e muitos outros, todos amigos, tudo se inicia com um grande surto após uma crise de identidade, com uma ótima frase dita por Nicole Garcia, também vivendo a si mesma, enquanto dirige uma cena, a procura de uma atriz para viver um personagem para a qual Chiara tenta o papel: “Eu esperava que você interpretasse isso mais... mais Mastroianni do que Deneuve!”.

 

Aos poucos, aquela ideia, a princípio lunática, da filha interpretar e a se apresentar ao mundo na forma de seu pai passa a surtir influência em todos ao redor, através da memória do que fora vivido e, por outro lado, das palavras nunca ditas.

 

Os personagens em tela, incluindo a própria Chiara, vivem versões fictícias de si mesmos, e a narrativa busca, através da vivência e comportamento da filha como se fosse o pai, por um discurso sobre o quanto de cada um de nós (e de nossa personalidade) é herdado de nossa família, e o quanto de nós é “original”, afinal, os frutos não caem longe do pé.

 

Acontece que, apesar dos grandes nomes envolvidos, e do amor pelo projeto, muitas vezes parece que Honoré não sabe exatamente como conduzir esta aventura familiar pelos bastidores do cinema, entre a mescla de sua abordagem dramática com toques de comédia e fantasia que, em muitas oportunidades, não parecem conversar muito entre si.

 

Fato é que o humor se encaixa muito mais nessa proposta absurda, o que, por outro lado, de maneira alguma exclui um olhar mais dramático – basta que encontrem equilíbrio e harmonia para serem trabalhados em conjunto. Logo, se levar a sério não é um problema, desde que se encontre a medida para tanto, justamente onde o diretor perde a mão, ao segmentar cada um dos estilos, e não exatamente os trabalhar em conjunto.

 

As vezes soa como se duas obras tivessem sido pensadas, com dois olhares distintos, que, reunidos, tiveram pedaços espalhados, mas não exatamente mesclados dentro da narrativa. E pela predominância do humor, os momentos de fantasia e que satirizam a situação funcionam muito melhor, por exemplo, do que aqueles em que se busca por uma sensibilidade no espectro do drama familiar, que parece apenas genérico, ainda que envolva Catherine Deneuve e Marcello/Chiara Mastroinni.

 

Então, a impressão que fica é a de que Marcello Mio, no fundo, é mais uma homenagem que funciona de fato aos envolvidos do que para o espectador. Não que não seja divertido, em alguns momentos diverte bastante, mas falta algo de realmente emocionante em sua narrativa, para além do debate superficial a respeito de pais/filhos, e suas semelhanças/diferenças, e claro, da homenagem gentil e carinhosa de Marcello Mastroianni, a quem todos, especialmente sua filha, sentem saudades.

 

Avaliação: 2/5

 

Marcello Mio (Idem, 2024)

Direção: Christophe Honoré

Roteiro: Christophe Honoré

Gênero: Drama, Comédia

Origem: França, Itália

Duração: 121 minutos (2h01)

48ª Mostra de São Paulo (Retrospectiva).

 

Sinopse: Esta é a história de uma mulher chamada Chiara. Ela é atriz, filha de Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve. Durante um verão em que vê sua realidade desmoronar, Chiara decide viver como o pai. Ela se veste como ele. Ela fala como ele. Ela respira como ele. A incorporação de Chiara é tão convincente que as pessoas começam a acreditar. Elas a chamam de “Marcello”. (Fonte: Mostra de SP)

2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comentarios


bottom of page