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Foto do escritorHenrique Debski

48ª MOSTRA DE SP | Centro Ilusão, de Pedro Diógenes (Idem, 2024)

No Centro Ilusão de Pedro Diógenes, a música é um ponto de união entre dois músicos, em uma envolvente jornada pela Fortaleza do mundo real.



 

Uma das melhores sensações que se tem ao entrar na sala de cinema é adentrar à realidades diversas da que vivemos, e sem saber o que esperar, esquecer da vida e viajar na mente de outros. Apenas neste ano é a segunda vez que Pedro Diógenes consegue tal feito, mais cedo com A Filha do Palhaço (também exibido na Mostra, em 2023, mas só assisti recentemente – e com crítica por aqui) e agora com seu novo longa, Centro Ilusão.

 

Apesar de dois filmes bastante diferentes, tanto em estilo quanto em temática, ambos apresentam uma interessante linha de diálogo dentro da filmografia do diretor, não apenas pela cidade em que se passam – com Fortaleza promovida a personagem -, mas pelas reconciliações que promovem, de maneiras distintas.

 

Se antes a relação se construía em torno de um pai ausente com a filha adolescente, na busca de uma reaproximação, dessa vez trata-se da música nas vidas de dois homens de gerações diferentes. Enquanto um deles, Kaio, é um jovem sonhador em busca de viver da música, Tuca, mais velho, próximo dos cinquenta anos, já enfrentou diversas decepções e não consegue encontrar um lugar ao mundo, com sua personalidade forte, para viver da arte.

 

O encontro dos dois, após fazerem uma audição para uma vaga em um laboratório de música de uma banda conhecida, permite que a amizade seja como um veículo para importantes trocas – por um lado, de conhecimento e experiência; e do outro, de positividade e otimismo, que até pode parecer típico de iniciantes, mas cuja crença no sonho pode ser responsável por grandes e importantes momentos.

 

Ambos têm medos, e a rejeição é uma sombra que os circunda a todo tempo – assim como de costume no universo artístico (e em qualquer outro). Enquanto um pensa e enxerga, com seu passado, o violão como a sua “droga”, responsável pela glória e perdição, o outro lhe mostra o como o mesmo faz parte de sua identidade, falando por ambos.

 

É por isso que a música é parte fundamental de Centro Ilusão, utilizada, com criatividade, como ferramenta para evitar os diálogos óbvios e expor o íntimo dos personagens através do lirismo da arte. Ouvi-los tocar e cantar é como conhecer aquilo pelo que tanto lutam, por aquele reconhecimento com o qual sonham e o como, juntos, podem fazer isso acontecer.

 

A montagem dá muito valor às canções, e mais ainda os toques de emoção aos pontos de virada e momentos decisivos através da sobreposição de imagens, em forma de lembranças e sentimentos. Muito disso também fica por conta da dupla protagonista, Brunu Kunk e Fernando Catatau, não só muito versáteis e exalando uma química muito convincente entre seus personagens, como também ótimos músicos e cantores.

 

Tudo isso se constrói colocando a cidade de Fortaleza como uma grande personagem para além da dupla, que os acompanha nessa jornada rumo ao reconhecimento, e lutando para manter acesa a luz que há dentro de si, enquanto artistas que amam aquilo que fazem. Nisso, poderia eu passar horas a mais acompanhando Kaio e Tuca, em tempo real, como praticamente todo o filme, ao passo que caminham e falam sobre a vida, como pessoas reais, comuns e com muito a dizer. Mas, por outro lado, Diogenes sabe exatamente quando acabar, na duração exata para nos fisgar, envolver e apaixonar por essa jornada do mundo real, através desse Centro Ilusão.

 

Avaliação: 4/5

 

Centro Ilusão (Idem, 2024)

Direção: Pedro Diógenes

Roteiro: Pedro Diógenes

Gênero: Drama, Musical

Origem: Brasil

Duração: 85 minutos (1h25)

48º Mostra de São Paulo (Mostra Brasil)

 

Sinopse: Dois músicos de gerações diferentes se conhecem em uma audição para um concorrido laboratório de música da cidade de Fortaleza. Tuca tem 50 anos e se sente frustrado com a carreira. Kaio, 18, é aspirante a artista que deseja fazer sucesso com as próprias composições. Ambos depositam esperanças e sonhos na possibilidade de serem aprovados. (Fonte: Mostra de SP)

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