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Foto do escritorHenrique Debski

47º MOSTRA DE SP | Zona de Interesse, de Jonathan Glazer (The Zone of Interest, 2023)

Jonathan Glazer, em Zona de Interessa, cria a perfeita ilustração da “banalidade do mal” referida por Hannah Arendt.


 

Em “Zona de Interesse”, Jonathan Glazer consegue ilustrar com perfeição o conceito de “banalidade do mal", desenvolvido pela filósofa Hannah Arendt. A partir de uma experiência sensorial e sem qualquer pressa, somos introduzidos à vida e à família de um oficial do alto escalão nazista, que levam uma vida comum, como de qualquer outra.

 

Mas aos poucos, percebemos que pouco de comum, aos nossos olhos, havia naquele cotidiano. A família vivia a um muro de um dos mais cruéis campos de extermínio da Alemanha, e tocava suas vidas como se nada lá acontecesse, a poucos passos da residência onde vivem, da mesa em que se alimentam e das camas em que dormem.

 

Constantes são os debates sobre a construção das câmaras de gás, administração dos campos e o extermínio de milhões de pessoas, tudo apenas parte do trabalho desempenhado pelo protagonista em sua rotina diária, que, ao anoitecer, conversa e compartilha com sua esposa, sem esboçar qualquer outro sentimento que não a indiferença.

 

E ao contrário de muitos filmes que chocam por imagens fortes e pela reconstrução histórica, o presente choca pelo desinteresse e pelo senso de rotina que se faz presente nos executores de um dos momentos mais sombrios da História da humanidade. Não há necessidade de se mostrar qualquer sofrimento, quando para o espectador a apatia dos personagens já se basta.

 

E aí está mais um grande acerto da direção de Glazer, que ao invés de retratar os nazistas como vilões, ou a eles conceder características com traços de vilania, os representa como pessoas comuns, cumprindo ordens e fazendo seus trabalhos, como um funcionário público qualquer, neste caso consciente do que faz, mas pouco se importando com as consequências de seus atos.

 

Dessa forma, “Zona de Interesse” é uma experiência dolorosa, porém poderosa na conscientização dos eventos da Segunda Guerra. Em meio a toda a naturalidade, a mise-en-scéne constantemente deixa em seu fundo uma desconfortável fumaça de chaminé, e o som de gritos abafados está sempre baixo, ao fundo. O desfecho catártico representa a memória dos cruéis momentos retratados. Para que nunca mais aconteça.


Avaliação: 5/5

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