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Foto do escritorHenrique Debski

47º MOSTRA DE SP | Paraíso em Chamas, de Mika Gustafson (Paradise is Burning, 2023)

A anarquia de um paraíso desregrado, com seus dias contados.



A atmosférica caótica de “Paraíso em Chamas” é elemento que chama atenção ao filme desde seus primeiros minutos. A premissa de três garotas, menores de idade, vivendo sozinhas em uma casa onde não existem regras fisga nossa atenção justamente ao aproveitar do ambiente de caos para desenvolver uma narrativa acerca de solidão e abandono.

 

A obra de Mika Gustafson, durante o primeiro ato, nos deixa a sensação de que, apesar de sozinhas, as três irmãs vivem bem e em harmonia, ao apresentar suas rotinas e meios de subsistência. No entanto, não demora muito para começar a adentrar em seus campos pessoais e mostrar que, como esperado, nem tudo está bem.

 

Entre as vidas individuais das irmãs, o abandono é o denominador comum, que, consequentemente, desagua na solidão. Ao longo da vida, elas foram abandonadas, primeiro pelo pai ausente, e depois pela mãe. E naturalmente, elas não têm a maturidade suficiente para cuidar, sozinhas, umas das outras, o que as levam a se abandonarem para cuidar de suas vidas.

 

Aos poucos, aquele ambiente anárquico inicial vai se transformando, a passos calmos, em um ambiente melancólico. Para a tentativa de curar a melancolia, vemos as personagens apegando-se a adultos, e com eles buscando, de formas estranhas, acolhimento. Às vezes, nesse ponto, Gustafson passa dos limites com as relações, e acaba criando laços incompatíveis com os caminhos trilhados, mas que logo se desfazem.

 

Diante de uma situação de urgência, e de uma espécie de contagem regressiva para a anarquia das irmãs, louvável foi a escolha do filme em focar na realidade delas, sem a interferência do mundo externo. Tal interferência é tida pela narrativa como a grande antagonista, mas no fundo, um mal necessário.

 

Dessa forma, o título “Paraíso em Chamas” faz jus a esses últimos dias epicuristas vividos pelas irmãs protagonistas, que sabem, mas preferem negar, a queda de seu frágil castelo de cartas, e aproveitar a vida sem preocupações, tentando preencher seus vazios existenciais.


Avaliação: 4/5

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