As quimeras de cada um.
Depois do excelente “Lazaro Felice”, é muito bom ver Alice Rohrwacher retornando a seu estilo de cinema fabular com “La Chimera”. Novamente situando seu filme no interior da Itália no século XX, vemos diversos elementos em comum quando seu novo longa coloca para debate temas como transformações, na figura do retorno de um personagem.
No entanto, ao contrário da outra obra citada, a presente não se sustenta e nem investe tanto no elemento fantástico, que dessa vez é colocado em segundo plano para dar lugar à verossimilhança de um homem em luto constante por sua amada, que após algum tempo na prisão retorna a seu grupo e à sua atividade como ladrão de túmulos, enquanto se apaixona por uma jovem aspirante a cantora.
A partir dessa premissa acredito que “La Chimera” se depara com seu maior empecilho, qual seja a dificuldade em encontrar seu real propósito. Notável que existe um fio condutor no roteiro que une todos esses arcos, mas há uma falta de foco em decidir qual assunto é mais relevante para guiar a narrativa. Por conta disso, ficamos diante de um filme com mais de duas horas e repleto de momentos que soam pouco relevantes.
E nesse contexto de indecisão que a fantasia, em diversas oportunidades, é apenas utilizada como forma de produzir metáforas pretensiosas, que pouco acrescentam à construção do personagem principal e, apesar de sua beleza imagética, especialmente quando executadas em planos teatrais, aparentam desejar atingir um grau de complexidade desnecessário.
Por outro lado, é também na fantasia que o filme encontra sua razão, ainda que tardiamente, ao descobrir a temática do luto como seu ponto central. A partir dessa descoberta, quando assume de cabeça a atmosfera fantasiosa, o encerramento, apesar de simples, mostra-se belo e impactante.
E dessa forma “La Chimera” se estende um pouco além do necessário, mas não ao ponto de sentimos a duração, visto que o universo de Rohrwacher, apesar de duro aos personagens, acolhe a nós, espectadores, de maneira singular. Ao final, percebemos: uma verdadeira quimera.
Avaliação: 3.5/5
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