O amor como cura para a melancolia, no triste universo de Aki Kaurismäki.
O mundo criado por Aki Kaurismäki em "Folhas de Outono" soa confuso a quem pela primeira vez se aventura à obra do diretor finlandês. Aparentemente na segunda metade do século XX, é necessário algum tempo para que aceitemos a ideia de que estamos diante da atualidade, numa realidade seletivamente moderna.
Nesse universo setentista atual, durante pouco mais de oitenta minutos acompanhamos uma história de amor, protagonizada por um casal que se apaixona sem pouco falar, e se envolvem a passos lentos e arritmados.
E não demora muito para percebermos que, nesse meio surrealista de uma contemporaneidade analógica, a travada paixão do casal protagonista está além de qualquer entendimento de nossa parte. Sem a necessidade de estabelecemos exatamente uma relação com eles, o trunfo da presente obra é nos permitir entrar de cabeça naquela realidade, e por ela transitar entre suas ironias e surpresas, conhecendo apenas uma ínfima parte da vida daqueles retratados.
Ao final, não há de negar que, à sua maneira, com seus olhos esteticamente voltados para o passado, Kaurismäki trata do presente.
Em meio à toda a desgraça existente no mundo em que vivemos, com guerras, trabalhos precários e deprimentes, doenças, inconveniências do destino e pobreza para todos os lados, o amor nem tudo pode resolver, mas ao menos consegue sobrepor-se a melancolia. E, quando acompanhados, apaixonados por aquele que conosco está, o melhor a se fazer é desligar o rádio – e, consequentemente, se desligar do mundo -, para aproveitar a vida, como todos nós, seres humanos, merecemos.
Avaliação: 4/5
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