A frieza de Ferrari em um tenso thriller de Michael Mann.
Quando penso em “Oppenheimer”, vejo todo o amadurecimento do cinema de Christopher Nolan, cujos melhores elementos estão reunidos em uma cinebiografia madura e imersiva a respeito de uma personalidade controversa.
Em relação à “Ferrari”, vejo o drama biográfico do veterano Michael Mann com a mesma visão. Apesar de sua estrutura tradicional, acompanhamos o recorte de uma das piores épocas da vida de Enzo Ferrari, quando tudo o que ele cultivou ao longo de anos está dando frutos da pior forma possível.
Nesse contexto, o roteiro de Troy Kennedy Martin não “passa pano” ou sequer tenta amenizar os feitos de Ferrari. Pelo contrário, coloca à tona suas controvérsias e lança sua personalidade complicada para debate, desenvolvendo a narrativa tanto por seu aspecto profissional quanto por sua vida pessoal e familiar, sendo que tudo está amarrado pela marca Ferrari, na iminência de falir.
A partir disso, a condução de Mann transborda do mero drama biográfico para o thriller ao bem aproveitar dessa complexidade para também trabalhar as corridas, cuja montagem potencializa o suspense e a tensão crescente ao alternar a conturbação pessoal de Ferrari com sua resiliência como montador de carros e apaixonado pelo automobilismo, que muito se reflete em Adam Driver e sua grande presença em cena.
Na ótica do protagonista, a corrida é colocada em um pedestal, assim filmada por Michael Mann, que na mesma medida enxerga Ferrari com certo olhar de reprovação quanto à sua frieza como ser humano, presente na maior parte do tempo. Para além de sua relação fria para com a esposa e filho, é na falta de segurança nas pistas, nos carros e nas pessoas a seu redor onde muito disso se reflete, e onde encontramos a brutalidade da direção, marca registrada do cineasta, muito bem aproveitada com o personagem de Gabriel Leone, Alfonso De Portago.
E assim os mais tradicionais elementos da filmografia de Michael Mann se encontram presentes em “Ferrari”, uma cinebiografia tensa e brutal que carrega os melhores traços do diretor e passa tão rápido quanto os próprios carros de corrida.
Avaliação: 4.5/5
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