Ao contar a vida de Samuel Beckett, James Marsh conduz uma biografia pra lá de superficial, e nem perto do nível de seu biografado.
Na proposta de uma cinebiografia poética e metafórica, supostamente inteligente à altura do autor e dramaturgo Samuel Beckett, James Marsh faz uso da fantasia para mascarar a obviedade de seu projeto.
Fingindo criatividade, "Dance Primeiro" nada mais é do que uma obra rasa e pouco orgânica, que passa superficialmente por momentos da vida de Beckett, sem nunca os explorar com alguma profundidade.
Incomoda o fato de que Marsh, nos primeiros minutos de seu filme, nos engana ao construir toda uma atmosfera sutilmente surrealista para retratar uma conversa do protagonista com sua consciência, essa responsável por guiar a narrativa e contar sobre a vida de Beckett a partir das pessoas de interesse que o influenciaram.
No entanto, a não ser pela consciência do protagonista, que para nada mais serve além de uma muleta narrativa, a personalidade em tela nunca tem seus sentimentos ou emoções reveladas, e muitas passagens são nitidamente simplificadas, justamente para se esquivar da responsabilidade de aprofundar o autor. Outras, ainda pior, são apenas atiradas ao longo da obra puramente por serem fatos relevantes, mas que o roteiro não deseja aprofundar.
E ao menos em filmes do mesmo estilo superficial, como "I Wanna Dance With Somebody" ou "Bohemian Rhapsody", momentos memoráveis são reproduzidos em tela para serem usados como clímax, por mais artificiais que soem em uma narrativa que ao menos corre de maneira pseudo-natural. "Dance Primeiro" parece ser uma junção de esquetes pouco interessantes, que juntas revelam o ínfimo de Samuel Beckett.
É pena que as ótimas interpretações de Fionn O'Shea e Gabriel Byrne, em diferentes momentos da vida da persona retratada, sejam pouco reconhecidas neste longa que mal consegue reproduzir meramente quem foi a pessoa biografada.
Em meio a metáforas óbvias e escancaradas em diálogos igualmente fracos, “Dance Primeiro” é esquecível por ser tão genérico ao ponto de nem mesmo ser capaz de refletir a personalidade de seu protagonista. Com tantas opções e abordagens que poderiam ser adotadas, a escolha feita foi por uma mediocridade que sequer chegou a ser atingida.
Avaliação: 2/5
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