A anatomia de uma família, no brilhante drama de Justine Triet.
Em um primeiro momento, “Anatomia de uma Queda” parece apenas mais um filme de tribunal comum, na qual uma escritora é colocada diante de um júri para provar sua inocência frente a morte suspeita de seu marido. Ele foi empurrado, ou ele se jogou do último andar da casa do casal, em direção ao solo maciço?
Ao longo dos debates, não demora muito para percebermos que, diante daquele contexto, a anatomia é de uma queda apenas na superfície, pois, caso Sandra queira combater as acusações feitas pela promotoria, precisará encarar o passado e expor sua vida pessoal em meio ao tribunal, e também à mídia.
Assim compreendemos que a anatomia de fato é de toda uma família, com anos de convivência, relações, a criação de um filho. Vidas inteiras são abertas em um jogo para se concluir, através da dialética, quem fala a verdade e qual tese argumentada está correta.
Nesse sentido, Justine Triet nos coloca na pele de uma protagonista que não conhecemos, a qual vamos nos tornando íntimos ao longo da projeção, enquanto sua vida é dissecada no julgamento.
Em todo esse tempo, existe sempre uma forte sensação de desconforto, para a personagem, que precisa lidar com sua vida pessoal sendo exposta, ainda mais em frente a seu filho; e também para nós, espectadores, que vamos construindo uma opinião acerca dos fatos apresentados, e não sabemos se Sandra é ou não uma pessoa em quem podemos de fato confiar, fruto também do excelente trabalho ambíguo de Sandra Hüller.
Ao mesmo tempo que a narrativa se apresenta em uma atmosfera de incomodo constante, desde seus primeiros minutos com o alto remix de P.I.M.P até o final, por outro lado existe muita sensibilidade no tratamento do caso retratado, especialmente no que tange ao filho do casal, a partir de sua visão dos fatos e participação no tribunal.
E apesar de seu desfecho amargo, que induz para algo que nunca vem, “Anatomia de uma Queda” é forte em trazer uma dinâmica de tribunal realista e dolorosa, sobre a dor de reviver momentos complexos da vida em meio a mídia e a tantos olhos e ouvidos.
Avaliação: 4.5/5
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