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Foto do escritorHenrique Debski

47º MOSTRA DE SP | A Besta, de Bertrand Bonello (The Beast, 2023)

Bertrand Bonello adapta obra de Henry James com a visão do amor ao longo do tempo, e deixa um alerta para o futuro.


 

Em “A Besta”, o cineasta Bertrand Bonello propõe um interessante universo distópico, onde as emoções humanas mostram-se um empecilho para a evolução da sociedade. Dessa forma, a purificação do DNA e a conexão com vidas passadas revela-se a única forma de eliminar os sentimentos.

 

Dentro deste universo futurista e de caráter extremamente pessimista, Bonello articula um ensaio a respeito dos relacionamentos ao longo do tempo. Isto é feito a partir da exploração das vidas passadas de Gabrielle e Louis, casal vivido por Léa Seydoux e George MacKay, que conseguem estabelecer entre si uma relação tão apática quanto emotiva.

 

A escolha de três diferentes vidas, em três diferentes momentos, confere ao diretor a possibilidade de aventurar-se em diversos gêneros e estilos, que rimam através do paralelismo que estabelecem entre si, a partir de seus elementos comuns e desfechos, alocados de maneiras distintas, referenciando o marcante estilo de cineastas como David Lynch, Cronemberg, e até Darren Aronofsky, com suas fantasiosas simbologias.

 

E nessa mescla de gêneros no qual trabalha “A Besta” somos apresentados à ideia do diretor com relação ao que acreditar ser o amor, e àquilo que está a se tornar. Se no passado, durante o final do século XIX, o víamos como algo belo, e necessário para a vida dos seres humanos em sociedade – e talvez até em demasia -, no presente muitos o veem com ódio e ao ponto de serem incapazes de atingir a sensação.

 

Mas o medo real está no futuro para onde caminhamos, com relações dotadas de superficialidade e sustentadas apenas na base da aparência. Dentro da obra, tão sombrio será o futuro que, para além das cores sem vida e do clima desanimador, a claustrofobia domina a mise-en-scene, que se estende, inclusive, para a fechada razão de aspecto.

 

“A Besta” assim funciona como uma espécie de alerta para a sociedade e para o caminho que trilhamos. Bonello a todo tempo sustenta a importância do amor e do companheirismo, com a Besta sempre à espreita, manifestando de diferentes formas ao longo do tempo.


Avaliação: 4.5/5

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