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Foto do escritorHenrique Debski

47º MOSTRA DE SP | A Batalha da Rua Maria Antônia, de Vera Egito (Idem, 2023)

Contagem regressiva para uma tragédia - 21 planos-sequência sobre uma das mais trágicas noites de São Paulo da Ditadura.



Vera Egito não poderia construir tensão melhor senão com 21 planos-sequência claustrofóbicos que exploram toda a tensão dos estudantes e professores de filosofia da USP encurralados no prédio da universidade, sendo ameaçados e atacados pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas) e pela polícia da Ditadura, na Rua Maria Antônia, em outubro de 1968.

 

É o retrato ideal de um momento da história brasileira onde não havia diálogo ou sequer liberdade de expressão. A tensa caminhada pelos corredores da faculdade, os estudantes aflitos, os ânimos crescendo. A imprevisibilidade é a chave mestra dessa narrativa que acompanhamos através de uma câmera errante que nos leva a conhecer e nos aprofundar nos dramas dos professores, alunos e líderes estudantis envolvidos naquela noite, enquanto, a cada novo plano-sequência, nos aproximamos mais de uma tragédia.

 

E a sensibilidade do roteiro e da direção para com os personagens envolvidos, pessoas e instituições faz deste, além do retrato ideal, também honesto e sensível em relação aos fatos.

 

Por um lado, entende os estudantes e professores da USP como as vítimas da batalha, mas em momento algum os santifica ou venera seus atos. Reconhece, nos personagens criados para a obra, características humanas, e consequentemente falhas, como a impulsividade de alguns e a ingenuidade de outros - especialmente da liderança.

 

Por outro lado, também não atribui a vilania à Universidade Mackenzie, mas tão somente ao CCC. Claro, dúvidas com relação ao quanto a instituição protege o grupo são levantadas, mas reforça, a todo tempo, terem estudantes envolvidos também na causa estudantil. Chegam, inclusive, a falar que os envolvidos do Mackenzie na batalha nem sequer estudantes eram, mas sim agentes do governo treinados e infiltrados.

 

Dessa forma, nunca é dito aquilo que não se sabe, e evitam-se imprecisões históricas e informações falsas. É um filme que foca na resistência estudantil ao período da ditadura e da luta pelo direito de se ter direitos e liberdade. Ao final da sessão, persiste um poderoso sentimento de impacto que a curta, mas poderosa, obra de Vera Egito produz.


Avaliação: 4.5/5

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