A imutabilidade do ser humano em uma refinada comédia sarcástica.
Adoro obras que se utilizam do drama ou da comédia para trabalhar questões sociais a partir de alegorias. Entre um significativo número de longas que são lançados anualmente, poucos são os que conseguem colocar esse tipo de proposta em prática, tal como “Triângulo da Tristeza” faz.
A mais nova comédia sarcástica do sueco Ruben Östlund toma sua narrativa a partir de um prólogo seguido por três capítulos, cada qual trabalhando – e satirizando - um tipo de relação e de ideologia do mundo atual. A medida que a narrativa avança e o capítulo se altera, há o estabelecimento de novos tipos de relação entre os mesmos personagens, sempre alterando a forma como se enxergam e se manifestam uns para os outros.
A parte divertida é que ninguém é poupado nessa sátira dos absurdos e dos exageros, onde a imprevisibilidade reina. Sem sombra de dúvidas o segundo capítulo, que se passa em um iate, apresenta uma das melhores sequências de comédia do ano, quiçá da década.
A condução de Östlund nesse momento específico é formidável, na medida em que o diretor, com uso de truques de câmera e uma atmosfera claustrofóbica consegue nos imergir, enjoar e enojar da mesma forma que os personagens, construindo toda a situação com calma e vagarosidade, essa que vai ficando cada vez mais intensa a medida que o filme avança.
Quando chegamos no terceiro capítulo, a comédia torna-se mais sutil, e até perde um pouco de sua acidez, mesmo que a sátira continue, e o comentário social avança de maneira diferente, mas também mantendo a mesma linha já trazida pelo filme. Talvez se estenda para além do necessário, isso é fato, mas tudo colabora para a chegada dos minutos finais, em uma poderosa catarse acompanhada, de brinde, por uma boa reviravolta e uma excelente cena final.
“Triângulo da Tristeza” é uma comédia poderosa, com humor ácido, sarcástico e refinado, em uma obra de longa duração, mas que de tão divertida passa num piscar de olhos.
Avaliação: 5/5
Comments