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Foto do escritorHenrique Debski

29º É TUDO VERDADE | Lampião, Governador do Sertão, de Wolney Oliveira (Idem, 2024)

Atualizado: 17 de abr.

Em Governador do Sertão, Wolney Oliveira faz um importante apanhado histórico sobre a persona e o legado de Lampião, mesmo que se atrapalhe na cronologia.



Todo brasileiro, onde quer que esteja, já ouviu falar de Virgulino Ferreira da Silva, senão por este nome, certamente por sua alcunha, Lampião. O mais conhecido cangaceiro do Brasil, tornou-se famoso por seus feitos criminosos, pelo enfrentamento às autoridades da época e sobretudo pela astúcia como líder, aos poucos conquistando admiradores e sendo objeto de filmes tão logo nos anos 30, pelas mãos de Benjamin Abrahão, que o documentou no final de sua época, entre 1936 e 1937.

 

Em meio ao amplo conhecimento de sua figura e das múltiplas influências que deixou na cultura brasileira, Lampião, Governador do Sertão propõe, num primeiro momento, um resgate histórico da imagem do temido cangaceiro Lampião, numa distinção entre a memória oral e a história escrita. Existe todo um interessante confronto articulado pela direção de Wolney Oliveira no estabelecimento do que é fato histórico documentado e o que é ficção.

 

Para tanto, o cineasta, em um trabalho de pesquisa, reuniu entrevistas e depoimentos com pessoas que conviveram com Lampião, e ao contrapor suas falas com o que se tem registrado – documentos e com embasamento de historiadores -, chega a um meio termo acerca de quem de fato pode ter sido Virgulino Ferreira da Silva.

 

Nesse enfoque, que se estende por boa parte do documentário, muito se explora suas razões para a vida criminosa, e a desmistificação de um retrato supostamente heroico, de entrada para o crime na intenção de vingar o assassinato de seu pai, algo que a História já comprovou não ser verdade, dadas as inconsistências nas datas. É onde também o título melhor se justifica, ao usar do temor gerado por Lampião para explorar o conflito entre seu grupo e as autoridades locais – com memórias históricas contadas até mesmo por Ariano Suassuna, cujo pai, ex-governador do estado da Paraíba, chegou a “declarar guerra” contra o cangaceiro.

 

Essa contraposição de ideias, porém, tem certa dificuldade em organizar uma linha temporal uniforme e os assuntos que aborda, abrindo linhas de pensamento que não se fecham ou demoram a se concluir, força de uma montagem que, diante de tanto material, se atrapalha ao trabalhar com tantas informações.

 

Quando se aproxima do fim, a partir desse debate sobre Lampião ser herói ou vilão, o longa se debruça no legado dessa figura histórica, no cenário nacional e internacional. É justamente quando mostra a relevância do personagem para a cultura nordestina, e como sua imagem se tornou a forma de subsistência de tantas cidades pequenas, seja pela produção de material voltado a sua persona, ou pelo estilo que deixou para o vestuário bordado e colorido local.

 

Quando Lampião, Governador do Sertão tenta abordar muitas ideias e pegar para si algumas das diversas frentes de Lampião, em alguns momentos se atrapalha na cronologia. Mas por outro lado, funciona muito bem ao trazer a repercussão por ele deixada à história e cultura, sobretudo ao Sertão nordestino brasileiro.

 

Avaliação: 3.5/5

 

Lampião, Governador do Sertão (Idem, 2024)

Direção: Wolney Oliveira

Roteiro: Wolney Oliveira

Gênero: Documentário

Origem: Brasil

Duração: 90 minutos (1h30)

Assistido no 29º Festival É Tudo Verdade.

 

Sinopse: A trajetória de Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, seu legado cultural e os mitos e polêmicas que o cercam.

(Fonte: É Tudo Verdade)

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