O documentário de Alberto Renault é importante em apresentar o trabalho de Anna Mariani, mas torna-se cansativo por ser repetitivo demais.
Uma das características que mais gosto quando penso no Cinema é a possibilidade de se difundir conhecimento. Não apenas histórias inspiradoras e a geração de emoção, mas o conhecer pessoas e áreas diversas, fora de nossa bolha, que cada vez mais nos enclausura, sobretudo com a tecnologia e as redes sociais.
Falo tudo isso pois a fotografia, apesar de uma arte da qual admiro, é uma área que conheço pouco. Não me recordo de grandes nomes contemporâneos, por exemplo, e quando penso me vem à mente talvez um artista único artista, mais conhecido. E assim, através deste filme, conheci um pouco do trabalho da fotógrafa Anna Mariani, que dedicou parte de sua vida a explorar o Sertão Nordestino a partir das lentes de uma câmera, registrando fachadas de casas e as áridas paisagens da região.
Como instrumento de conhecimento, para levar o trabalho de Anna Mariani adiante, e sobretudo mantê-lo ainda mais vivo, para além de sua área, o documentário de Alberto Renault, Anna Mariani – Anotações Fotográficas, funciona muito bem, quando contrapõe as fotografias da artista, à época, nas últimas décadas do século XX, com a realidade presente, buscando uma espécie de releitura, moderna, aos moldes da artista, ao mesmo tempo que homenageia sua memória.
As ermas estradas de terra, filmadas de dentro do carro, e o avistamento de vida humana ao longe durante a viagem coloca a nós, espectadores, em um lugar privilegiado, ao lado do diretor, em sua jornada reflexiva acerca da arte de Mariani, junto a uma trilha instrumental animada que faz desse passeio algo mais vivo.
Porém, mesmo com apenas 70 minutos de duração, a experiência com o filme pode, e se torna, exaustiva. Não pela obra da artista e menos ainda pela homenagem e revisão que propõe Renault, mas pela exagerada repetição em como conduz sua narrativa, que se constrói a partir de uma fórmula utilizada reiteradamente durante todo o tempo, com pouco ou nenhuma variação. O mesmo, inclusive, vale para a trilha, que apesar da boa melodia, quando tocada em loop aos poucos vai perdendo seu efeito. Talvez o ideal seria que Anna Mariani – Anotações Fotográficas fosse um curta ou média-metragem, que poderia abordar a obra da fotógrafa sem esgotar o espectador e seu próprio conteúdo.
Acredito que se algo me manteve interessado, por quase todo o tempo, foi a reflexão proposta por mim, e para mim, quando assistido após o documentário Lampião, Governador do Sertão. Enquanto aquele filme explorava o Sertão Nordestino em seu aspecto humano, a partir das influências e o legado deixado pelo cangaceiro, este leva em consideração o Sertão em seu aspecto natural e paisagístico, oferecendo, involuntariamente, dois ótimos pontos de vista diversos e complementares, obra de puro acaso.
Avaliação: 2.5/5
Anna Mariani – Anotações Fotográficas (Idem, 2024)
Direção: Alberto Renault
Roteiro: Alberto Renault
Gênero: Documentário
Origem: Brasil
Duração: 70 minutos (1h10)
Assistido no 29º Festival É Tudo Verdade.
Sinopse: Anna Mariani – Anotações fotográficas retoma os caminhos que a artista percorreu para criar dois ensaios que são verdadeiros marcos da fotografia brasileira contemporânea: Pinturas e Platibandas (1987) e Paisagens, impressões: o semiárido brasileiro (1992).
(Fonte: É Tudo Verdade – Adaptado)
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