A Senhora das Flechas celebra a importância de Claudia Andujar à população Yanomami, e mostra que seu legado está mais vivo do que nunca.
O ativismo da fotógrafa suíça Claudia Andujar para os direitos indígenas e a demarcação de suas terras vai muito além de todo o seu trabalho na fotografia. Em uma excelente maneira de espalhar a necessidade das palavras de proteção dos povos originários brasileiros ao mundo, suas atuações, artísticas e ativistas, se fundem de tal forma que se torna impossível a dissociação de uma para com a outra.
A Senhora das Flechas segue nessa linha dissociativa entre os dois elementos como um grande tributo ao trabalho de Andujar, reforçando os pontos onde sua obra transborda para além de si, e traz consideráveis mudanças ao mundo concreto, e sobretudo ao presente das comunidades indígenas, no reforço ao debate de suas necessidades e direitos, constantemente violados.
Em um primeiro momento, a direção de Heidi Specogna explora essencialmente a imagem de Andujar, a partir de um registro vindo da própria biografada a respeito de sua história, a paixão pela fotografia e os motivos que a levaram para seguir sua veia ativista, especialmente em uma relação muito tocante à memória de sua família, vítima do Holocausto.
Em seguida, entramos no ponto de virada de sua vida, quando ela foi uma das primeiras pessoas brancas a estabelecer contato com o povo Yanomami, que até os anos 70 viviam isolados em sua própria comunidade. Esse contato foi responsável pelo estabelecimento de uma grande amizade entre ela e membros do povo Yanomami, os quais ela ajudou desde propondo, inicialmente, meios para tratamento médico, assim como aproveitando-se da arte para levar sua cultura, e posteriormente, lutas e reinvindicações à diversos lugares do Brasil e do mundo, com inúmeras imagens de arquivo mostrando lideranças do povo e Andujar expondo suas pautas desde na Europa aos EUA.
É assim que Specogna, no terço final, aborda a persona de Claudia Andujar, não a partir de si, mas de tudo aquilo que construiu e do legado que deixará na luta dos povos Yanomami pela demarcação de suas terras. É quando a enxergamos como a mulher que lhes dás as flechas de esperança diante de todo seu esforço, em uma metáfora construída por um deles em certo discurso. Justamente em respeito a todo o trabalho da fotógrafa, os minutos finais são dedicados a um grito de socorro dos povos indígenas, por eles mesmos, na forma de uma forte denúncia contra o governo brasileiro, federal e estadual (na região em que se localizam), diante de uma incapacidade (ou desinteresse?) em proteger seus interesses e necessidades, tendo em vista a atuação prejudicial do garimpo ilegal e dos madeireiros.
É nesse sentido que A Senhora das Flechas transborda a personalidade de Claudia Andujar para além de sua persona, buscando estabelecer um legado para todo o seu trabalho, em um documentário conciso e profundo em como aborda sua biografada, da mesma forma que confere espaço para um grito de ajuda na continuidade da luta que iniciou.
Avaliação: 4/5
A Senhora das Flechas (The Lady With the Arrows, 2024)
Direção: Heidi Specogna
Roteiro: Heidi Specogna
Gênero: Documentário
Origem: Alemanha e Suiça
Duração: 89 minutos (1h29)
Assistido no 29º Festival É Tudo Verdade.
Sinopse: Durante uma viagem, a fotógrafa Claudia Andujar desenvolve um relacionamento profundo com o povo yanomami e os ajuda a lutar contra a exploração da floresta amazônica e seu extermínio. (Fonte: É Tudo Verdade)
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