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Foto do escritorHenrique Debski

13º OLHAR DE CINEMA | Eu Não Sou Tudo Aquilo que Quero Ser, de Klára Tasovská (Ještě Nejsem, Kým Chci Být, 2024)

Através das fotografias da própria biografada, Klára Tasovská arrisca na forma de seu documentário sobre Libuse Jarcovjakova.



Entre todas as formas possíveis de se apresentar e debater a persona e o trabalho da fotógrafa tcheca Libuse Jarcovjakova, creio que a diretora Klára Tasovská encontrou, em Eu Não Sou Tudo Aquilo que Quero Ser, o meio ideal: um retrato contado por e pela própria biografada, através de sua arte.

 

Longe das engessadas entrevistas em frente à câmera, a cineasta optou por uma veia arriscada, de experimentação, porém mais original, ao escolher contar sobre Libuse exclusivamente a partir de suas fotografias. É um filme, portanto, ausente de qualquer tipo de movimento, composto apenas por imagens estáticas que mudam constantemente, com citações de trechos do diário pessoal da fotógrafa recitados por ela mesma, enquanto conta sobre suas frustrações e dificuldades no início da carreira.

 

O que de princípio pode parecer uma experiência cinematográfica maçante é surpreendentemente dotado de um dinamismo ímpar na montagem assinada por Alexander Kashcheev, na medida em que a narração se encontra em completa consonância com as imagens em tela, muitas vezes representando sentimentos e sensações genuínas da fotógrafa, que tinha o hábito de constantemente se fotografar perante o espelho ou apenas virar a câmera para si, captando seu rosto. Mas isso é algo que vai muito além de sua própria imagem, quando seu estado de espírito também se reflete nos tipos de fotografia que produzia durante o período, seja das cidades em que estava, ou mesmo das pessoas ao seu redor.

 

O recorte temporal específico, inclusive, vem acompanhado de uma dupla consequência para o desenvolvimento da obra. Em um primeiro momento, a ênfase no início da trajetória de Libuse, entre os anos 1970 e 1990, nos permite, enquanto espectadores, vivenciar por suas imagens, que representam seu olhar, um período da República Tcheca, dos mais conturbados da história do país, sob o prisma da adaptação ao socialismo e a readaptação com sua queda, e ascensão, novamente, do sistema capitalista. Para além de apenas uma visão de seu país natal, o período também contempla um olhar para o Japão e a Alemanha Ocidental, e suas respectivas diferenças sociais, culturais e políticas.

 

Por outro lado, no entanto, ao mirar apenas no início da carreira de Libuse, e se estender até a queda do Muro de Berlin, em 1989, a ambição e os sonhos da artista, apesar de bem retratados, se limitam apenas à última década do século XX. Muito pouco se fala, então, daquilo que a artista fez após esse período, nos apresentando uma imagem de quem ela foi no passado, mas nada de quem ela é no presente. Há de crer, por aquilo que fica subentendido, que ela ainda não acredita ser tudo aquilo que desejava ser, mas sua voz, neste momento, é pouco ouvida.

 

A colagem de imagens mais recentes – dos últimos vinte anos -, ao final do documentário, passa uma visão de maior estabilidade emocional e psicológica de Libuse Jarcovjakova, mais autêntica e que possivelmente compreendeu quem é, ou deseja ser. Mas ainda assim são perguntas que ficam em aberto – talvez um convite à reflexão do espectador, ou seria uma impossibilidade da própria artista ainda em determinar quem é? O que fica certo, no entanto, é seu sucesso, que se expande para além do nicho através deste filme, formalmente criativo, e genuíno em representar sua persona.

 

Avaliação: 3.5/5

 

Eu Não Sou Tudo Aquilo que Quero Ser (Ještě Nejsem, Kým Chci Být, 2024)

Direção: Klára Tasovská

Roteiro: Klára Tasovská, Alexander Kashcheev

Gênero: Documentário

Origem: República Tcheca, Eslováquia, Áustria

Duração: 90 minutos (1h30)

13º Festival Olhar de Cinema (Competitiva Internacional)

 

Sinopse: A partir de relatos de seu diário, do encadeamento e sonorização de suas fotografias, “Eu Não Sou Tudo Aquilo Que Quero Ser” nos apresenta a vida e o trabalho da tcheca Libuše Jarcovjákové. Transitando entre Praga, Berlim e Tóquio no período da ocupação soviética na então Tchecoslováquia, a contínua e bem documentada busca da fotógrafa por um modo autêntico de ser e de criar nos conduz por universos pouco conhecidos, aproximando-nos de uma obra e existência tão singulares quanto cotidianas.  (Fonte: Olhar de Cinema)

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