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Foto do escritorHenrique Debski

12ª Mostra Tiradentes SP | Eros, de Rachel Daisy Ellis (Idem, 2024)

Em Eros, alguns casais flexibilizam sua intimidade em prol da construção de uma imagem dos motéis no Brasil, em documentário conduzido por Rachel Daisy Ellis.



O sexo, em pleno 2024, continua sendo considerado um tabu na sociedade. Mesmo que já tenhamos evoluído em relação ao debate do tema, e cada vez mais conseguido proporcionar a inclusão de todos nas discussões, ainda há muito para ser feito.

 

Nesse contexto, quando direcionamos nossos olhares para o Brasil, nos deparamos com a interessante instituição social que chamamos de motel, cuja função exercida se difere em relação à outros países, como os Estados Unidos. Enquanto na América do Norte o motel é um simples hotel barato, normalmente à beira da estrada, no Brasil o enxergamos, majoritariamente, como um local destinado às práticas sexuais.

 

Definido pela diretora britânica-brasileira Rachel Daisy Ellis como “a maior instituição de sexo do Brasil”, a ideia a surgiu quando foi deixada esperando em um motel, por um companheiro que não apareceu. Com a solidão sentida em um local onde costuma-se estar acompanhado, e ouvindo os ruídos dos quartos ao lado, ela pensou em justamente fazer um documentário que investigasse a relação dos brasileiros com o ambiente do motel.

 

Em meio à possibilidade de se construir uma obra formalmente conservadora, que talvez fosse o caminho mais tradicional, Daisy Ellis decidiu experimentar. Ao invés de uma estrutura burocrática a base de entrevistas e depoimentos em frente a câmera, a cineasta, junto a um seleto e diverso grupo de pesquisadores, buscou e conversou com casais ao redor do Brasil, e pediu para alguns a possibilidade de flexibilizarem suas intimidades para participarem do filme, filmando uma ida juntos ao motel e registrando a experiência. A seleção desses casais, inclusive, mirou na diversidade, desde pessoas idosas a jovens; casais LGBTQIAPN+ a religiosos evangélicos; pessoas que por alguma razão acabam sozinhas naquele local aos que vão a três ou preferem assistir e interagir com outros casais.

 

Apesar de assinar a direção geral do longa, Daisy Ellis compartilha a cadeira de direção com todos os envolvidos. Apenas com algumas sugestões e orientações de como filmar, foi dada liberdade para que os casais decidissem como gostariam de se retratar.

 

O resultado deste grande experimento cinematográfico vai muito além do mero ato e prazer sexual. A sensibilidade capturada pela câmera de cada um dos casais fala muito acerca de si. São distintas imagens acerca do motel que se reúnem, propiciadas por diferentes experiências e vivências de cada um, que levam a diversas visões de mundo convergidas em um único filme, que as utiliza como vitrine para uma ampla definição de como os motéis são vistos no Brasil.

 

Essa liberdade conferida pela direção, muito importante em face da renúncia parcial da privacidade com a participação no filme, levou um conforto maior aos casais em se filmarem em seus momentos de maior intimidade. Muitas histórias de vida são compartilhadas, e reflexões a respeito da maneira de enxergar a instituição do motel e suas funções contribuem para ampliar sua relevância, desde para os casais religiosos evangélicos até para quem trabalha como profissional do sexo. Nesse meio, é claro, o prazer encontra seu lugar, ora de forma de aproximar pessoas e estreitar relacionamentos, e ora como mercadoria.

 

No desfecho, uma rima narrativa deixada pela relação entre o primeiro e último segmento, que abordam a solidão em frequentar o motel sem um par, se fortalece ainda mais com os créditos finais subindo ao som de “Motel Afrodite”. O que por si só já é uma grande experiência social e antropológica propiciada pela arte cinematográfica, assistir à “Eros” em uma sessão com a presença da diretora, equipe e de alguns dos casais que aparecem no filme fez a obra se tornar ainda mais crível e próxima de nós, espectadores, na certeza que temos em este se tratar de um longa que dialoga, e muito, conosco, brasileiros como um todo.

 

Avaliação: 5/5

 

Eros (Idem, 2024)

Direção: Rachel Daisy Ellis

Roteiro: Rachel Daisy Ellis

Gênero: Documentário

Origem: Brasil

Duração: 108 minutos (1h48)

Assistido na 12ª Mostra Tiradentes | SP.

 

Sinopse: O filme “EROS” acessa a intimidade vivenciada na maior instituição erótica do Brasil: o motel. Pessoas frequentadoras foram convidadas a se filmar durante uma noite e compartilhar os seus vídeos para fazer parte de um filme. (Fonte: Sinny Comunicação)

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